2/05/2013

Fast Happy Readers

Foto retirado do jornal inglês «The Telegraph».

Confesso que tenho andado às voltas com esta questão do país onde o Sol já se põe, e cedo demais. Do Reino Unido, que atualmente se encontra perante o maior encerramento de bibliotecas da história, surge a notícia do alargamento da campanha Happy Readers, da multinacional de pasta de fécula de batata e carnes processadas McDonalds.

Ao longo de dois anos, e durante um determinado período desse tempo, irão substituir os habituais brinquedos oferta por livros infantis. Serão mais de 15 milhões de livros que irão parar à casa destes que fazem, verdadeiramente, a Little Britain.

Por um lado, 15 milhões de livros e um interesse redobrado na leitura é sempre uma boa notícia, mesmo quando ela vem a embrulhar uma empresa que só se interessa em salvar as suas vendas de Happy Meals, que têm sido consecutivamente atacadas, em especial após a campanha «Ministry of Food», encabeçada pelo star-chef Jamie Oliver, e dedicada à alimentação das crianças nas escolas.

Se numa primeira fase colocaram fruta no Happy Meals, incluíram leite biológico e mudaram as embalagens, agora procuram «comprar» os pais, ajudando-os no desenvolvimento cultural dos petizes.

Por outro lado, não direi que 15 milhões de livros irão esgotar o mercado do livro infantil, pois apesar de tudo o livro é um produto cultural aditivo e quando mais livros se tem/lê, mais livros se quer ter/ler. Daí que poderá até propiciar a venda de mais livros, em especial dos autores incluídos nesta oferta. No entanto, quando se oferecem livros na compra de um hambúrguer com batatas fritas a um preço irrisório, dificilmente isso não afetará o valor percebido do mercado do livro infantil, já de si tremendamente desvalorizado. Se é fácil vender a cêntimos um livro com uma tiragem de 15 milhões, o mesmo nunca sucederá com todos os restantes livros, que se tornam, automaticamente, demasiado caros.

No fundo, todos nós gostamos e achamos que devemos comer peixe, mas quando nos oferecem douradinho durante demasiado tempo, deixamos de saber pescar e de saber o que é isso, de peixe.

Temo que a «benevolência» comercial desta empresa de fast food possa ser uma ação demasiado disruptiva para que possamos todos ficar contentes com a presença de mais um livro na casa de todos os ingleses. Se Juvenal ainda fosse vivo diria algo como Hambúrgueres e Trash TV, para caracterizar esta nova Roma.

Nuno Seabra Lopes

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