1/29/2013

Grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago


A Fundação José Saramago tem como fontes de financiamento os direitos de autor da obra de José Saramago e as receitas de entrada e da sua livraria/loja na Casa dos Bicos, não recebendo qualquer financiamento público. Abrimos agora a possibilidade de os nossos amigos poderem ser parceiros deste projeto através da criação do grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago.

Plafonds de adesão:

1. - Obrigado por juntar o seu nome ao grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago! Ao contribuir com um valor entre 5,00 € e 10,00 €, o seu nome passa a integrar a lista disponível na nossa página de Internet e receberá em pdf, na sua caixa de correio eletrónico, um cartão de Amigo da Fundação;

2. - Obrigado por juntar o seu nome ao grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago! Ao contribuir com um valor entre 11,00 € e 20,00 €, para além dos benefícios antes mencionados usufrui de entrada gratuita na Casa dos Bicos sempre que nos visitar;

3. - Obrigado por juntar o seu nome ao grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago! Ao contribuir com um valor entre 21,00 € e 50,00 €, para além dos benefícios antes mencionados, usufrui de um desconto permanente de 20% na livraria/loja da Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos;

4. - Obrigado por juntar o seu nome ao grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago! Ao contribuir com um valor entre 51,00 € e 500,00 €, para além dos benefícios antes mencionados, receberá em casa o livro de José Saramago, intitulado A Estátua e a Pedra. O autor explica-se, a publicar durante o ano de 2013;

5. - Obrigado por juntar o seu nome ao grupo de Amigas e Amigos da Fundação José Saramago! Ao contribuir com um valor superior a 500,00 €, para além dos benefícios antes mencionados, o seu nome integrará também a lista de parceiros da Fundação José Saramago, presente em todos os materiais de divulgação da Fundação.

Os donativos, que podem ser pontuais ou no número de vezes que os Amigos entenderem, podem ser entregues na sede da Fundação, na Casa dos Bicos (na loja, 3.º andar, preenchendo o devido impresso presente no local) ou enviados para a conta da Fundação José Saramago, com os seguintes dados:

NIB - 0010 0000 38687840001 04
IBAN – PT50 0010 0000 3868 7840 0010 4
SWIFT/BIC – BBPIPTPL

Para validar a sua adesão, após efetuar a transferência deve contactar-nos para o endereço amigos@josesaramago.org ou por via postal, para o endereço Casa dos Bicos, Rua dos Bacalhoeiros, 10 - 1100-135 Lisboa, indicando os seus dados pessoais:
Nome
Morada
Endereço de correio eletrónico
Valor transferido

Obrigado, Amiga e Amigo da Fundação José Saramago: entre todos tentaremos que circulem boas ideias pelo mundo. As que os escritores lançaram para que todos fôssemos mais longe em matéria de beleza e humanidade. Aí está José Saramago, aqui está a Associação de Amizade para com a Fundação que leva o nome do grande escritor português e universal.

Notas:
- Os donativos em dinheiro de valor superior a 200,00 € têm de ser efectuados por transferência bancária, por forma a permitir a identificação do dador, sendo obrigatória a emissão de recibo (Art.º 66 do Estatuto dos Benefícios Fiscais);

- Os donativos são passíveis de benefício fiscal (Dedução em sede de IRS ou IRC - Estatuto dos Benefícios Fiscais).

Fundação José Saramago
Casa dos Bicos
Rua dos Bacalhoeiros, 10
1100-135 Lisboa
Telefone - (+ 351) 218 802 040

1/28/2013

Os e-books e as livrarias do século XXI


Nunca como hoje se tornou tão premente repensar o livro, desde a forma como se edita, à forma como se distribui, ao formato, à plataforma, ao meio de chegar ao leitor. O advento da internet foi o rastilho, mas a invenção e o desenvolvimento de novas plataformas de leitura na primeira década do século XXI, como os leitores eletrónicos e os tablets, tornou mais do que inevitável essa questão.

É possível que dentro de uma ou duas gerações os livros deixem de existir na forma como os conhecemos hoje. O impacto que essa evolução terá no setor será sem dúvida alguma revolucionário. As editoras serão talvez as que menos sofrerão se forem capazes de se adaptarem às mudanças dos hábitos dos leitores, e de inovar, tanto na aquisição e tratamento de novos títulos, como na sua edição, como na sua distribuição, no marketing e na comunicação. As distribuidoras serão certamente as mais afetadas com o crescimento da venda de e-books. As livrarias, se não se adiantarem à inevitabilidade do fim, nos seus moldes tradicionais, também sofrerão um progressivo definhamento, como aconteceu primeiro com as lojas de música e depois com os videoclubes.

Contudo, isto não significa que as livrarias tenham de deixar de existir. Poderá haver margem para evoluírem também. Quem hoje aluga um filme diretamente a partir do televisor e que antigamente tinha de se deslocar a um estabelecimento comercial para o fazer, sente as vantagens de não ter de sair de casa para ver um filme, é certo. Porém, sentirá ao mesmo tempo um vazio, pois a ideia de ir a um videoclube e de não saber se o filme que se pretendia alugar estava de facto disponível, era de certa forma aliciante. Muitas vezes as cópias já haviam sido todas alugadas e o comerciante recomendava alternativas que nos levavam a descobrir outros filmes, quem sabe ainda mais interessantes do que aquele que se pretendia alugar inicialmente. São essas descobertas inesperadas que fazem da experiência de ir a um videoclube tão mais enriquecedora do que o aluguer através de um simples clique. É por isso que a existência das livrarias é fundamental.

A diferença entre o consumo de um filme e o de um livro é evidente – a compra de um livro passar por uma maior reflexão. Isto acontece não só devido ao preço, claro, mas também ao tempo que a leitura consome e ao investimento emocional necessário. O filme é de consumo mais impulsivo, mais imediato. Um livro fica por mais tempo.

Hoje em dia o leitor médio explora com maior cuidado as suas opções antes de decidir o que vai ler, procurando cruzar diferentes opiniões em sites dedicados à leitura. Muitas vezes o leitor prefere encomendar os livros logo através da internet ou fazer o download direto do e-book para o seu leitor eletrónico, no caso de ter um. Apesar disso, ainda há quem continue a não prescindir de uma visita a um estabelecimento comercial para adquirir os seus livros. Deste modo, quando o leitor se dirige a uma livraria, esperará naturalmente um serviço eficiente, que lhe permita sentir-se reconfortado com a sua compra, mas sobretudo levar algo mais consigo do que apenas o livro que adquiriu, como a experiência de manusear os livros, de observar as capas, de sentir o cheiro a papel e a tinta, de falar com o autor num lançamento, de conseguir um autógrafo ou mesmo uma dedicatória, de ouvir testemunhos de outros leitores. O manuseio de um livro encadernado é mais envolvente do que o de um CD ou de um DVD, pelo que talvez seja por isso que os e-books levarão tempo a tomar o mercado, talvez nunca o venham a tomar por completo. É como os discos de vinil que regressaram após quase se terem extinguido com o aparecimento do CD, e pareciam ter ficado para a história com a explosão do digital. A qualidade do som não se compara, dizem os amantes da música. É uma experiência sem dúvida diferente, tal como folhear um livro encadernado.

Todavia, o e-book veio para ficar, e em vez de se temê-lo, é essencial explorar todas as novas oportunidades que se podem desenvolver a partir dessa inevitabilidade para se repensar o futuro das livrarias. A dinâmica do espaço, a oferta de novos serviços e o atendimento prestado pelos livreiros serão essenciais. Só assim a livraria manter-se-á, não como um mero espaço de venda de livros, mas como um verdadeiro polo de encontro com a palavra escrita, impressa ou digital.

Catarina Araújo
Assessora de comunicação e escritora

1/23/2013

O problema dos saldos



Falar de saldos é quase suicídio. Todos, de entre nós, adoramos encontrar os livros que queremos ao preço mais convidativo, e nenhum editor gosta de ter um armazém cheio de «ativos» que só não são tóxicos, porque nenhum guru da economia assim decidiu chamar aos milhares de livros mortos que repousam eternamente nos armazéns das editoras.

«Rodar é viver», poderia ser o lema do mercado. Se não vende, volta para o caixote de onde nunca mais sairá até ao dia da guilhotina final. E faturar é manter a máquina a andar, seja a vender 1000 livros a 10,00€ ou 5000 a 2,00€. Reduzem-se os fundos, mantém-se o fluxo de capital e o dinheiro necessário para salários e novos projetos.

Para um livreiro, a justificação é também óbvia, quando mais barato, mais vende (ou, em crise, mantém os volumes de venda), como a margem não se altera, torna-se apenas uma questão de evitar com isso o aumento de custos do processo. Até a GfK, em final de 2011, se congratulou com o aumento do volume (mesmo registando quebra de valor).

Para além do mais, o livro é um produto e, o preço, só um dos seus elementos (importante, claro), daí que não saia beliscada a sua reputação se for vendido mais barato, que o digam os livros de baixa qualidade gráfica e de paginação que são vendidos massivamente com os periódicos, e onde ninguém se parece importar muito com isso.

Se se vende mais e todos estão contentes se – com muitos parecem acreditar −, têm sido os saldos a aguentar o mercado de quebras maiores, qual é o problema dos saldos?

Pessoalmente não acho que os saldos sejam uma coisa má, má é todo o mercado ser composto por saldos.

Quando em todas as estações de metro ou comboio, faculdade, instituto, fundação, jardim e praça pública surgiram «Feiras», aproveitando uma tresleitura da Lei do Preço Fixo (aliás, praticada por quase toda a gente que tenha mais do que 5 pontos de venda ou possa mudar de localização...), muitos se regozijaram. Para os editores era uma segunda vida para escoar os seus produtos, um destino melhor do que o pó ou a lâmina.

Quando, a partir de 2009, os hipermercados começaram claramente a selecionar os seus livros para redução do preço médio (com saldos, feiras, etc., para além de alterações na seleção), todos perceberam. Hipermercado é hipermercado e nada de estranho se apresenta.

Quando as principais redes reduzem agora os seus fundos e destinam espaços cada vez maiores às «ilhas» de saldo (que agora parecem permanentes), alguns começam a perguntar-se se ainda existe mercado para além dos saldos.

Não fosse a Lei acima referida proteger por 18 meses o preço do editor, e ser difícil e custoso a sua alteração (pelo editor), e nos nossos centros comerciais não teríamos livrarias, mas só discount stores de livros.

Reina a confusão. A estratégia de preço é inexistente (ou assenta num: vou ver o que consigo vender a este preço «justo» e depois [de morto] arranjo forma de despachar o resto), o mercado vive entre uma profusão de saldos e uma legião de novidades a preços demasiado elevados para se comparar.

Os pequenos livreiros tornam-se, assim e sem quererem ser, livrarias boutique. O lugar dos livros caros.

Se os livros novos não vendem porque são caros (para o mercado) e acabam, tempos depois, a preços de liquidação, porque não desenvolver uma estratégia de preço mais competitiva, que permita aumentar a atratividade com o preço (associando ao fator novidade) e, assim sim, vender mais logo à partida? Será mais arriscado que ter um preço que não permita ir além da venda de 200 ou 300 exemplares?

Há quem diga que o preço não é importante em muitas das categorias, mas, e assim não fosse, ninguém estaria a falar agora em saldos.

Nuno Seabra Lopes

1/21/2013

2012, Ano negro


Se, em 2011, a quebra em valor tinha sido já significativa, em 2012 conseguiu duplicar-se esse valor. O mercado do livro termina 2012 com uma quebra superior aos 9%, tendo o mercado mainstream perdido mais de 14 milhões de euros, aos quais se tem de associar pelo menos mais 2 ou 3 milhões não cartografados de entre as centenas de pequenas livrarias e quiosques/livraria espalhados pelo país.

Este foi um ano negro no mercado do livro em Portugal que, assim, regressa a valores provavelmente inferiores a 2007. Mais do que a quebra em si, é a quebra num mercado bastante descapitalizado, onde o dinheiro que circula está longe de colmatar os buracos financeiros criados ao longo de anos de crescimento baseado em aumento de custos e de falências de distribuidoras desadequadas ao mercado.

Num ano em que as livrarias adequaram o fundo às suas capacidades, reduzindo as colocações (e ilusório sell out das editoras) e apostando maioritariamente em produtos de baixo preço, a quebra da oferta teria de se traduzir na continuação da quebra em valor do mercado. As livrarias e as editoras, temendo o risco num ano complicado, retraíram no investimento, contribuindo para uma quebra superior.

Será isso bom, numa indústria com superprodução e um mercado sem capacidade para comercializar decentemente mais do que 5% dos livros que se produzem? Talvez sim; talvez este ajustamento propicie alterações de fundo para os próximos anos, ou talvez este mercado permaneça conservador, sem querer arriscar, definhando enquanto espera que os anos de crescimento de um futuro próximo os empurre para uma salvação digital.

Nuno Seabra Lopes

1/16/2013

BiblioHistória

Em mais do que um post deste blogue falou-se da importância da memória, de como só registando e recordando, ou seja, consultando os nossos arquivos sempre que necessário, conseguimos ter um entendimento mais aprofundado e correto da nossa cultura, do nosso percurso.

Para registar memória, no entanto, é necessário esforço, tanto de tempo como de recursos, mas foi isso que o escritor Pedro Almeida Vieira fez nestes últimos anos, iniciando o BiblioHistória, uma base de dados de obras de literatura de género histórico de escritores portugueses.

Durante este período foi possível aproveitar o esforço de Pedro Almeida Vieira sem qualquer contrapartida, uma dádiva que, sempre que necessitaram, foi utilizada.

Pela validade do projeto, a sua editora e respetivo grupo onde está inserido (Sextante Editora/ Grupo Porto Editora) mantiveram um financiamento de 600,00€ anuais para pagamento de despesas (de manutenção dos sistemas informáticos, alojamento, etc.). Em 2013 esse financiamento foi cancelado.

Pedro Almeida Vieira, no entanto, não quer cancelar o projeto e, inclusive, tem planos de desenvolvimento da plataforma, permitindo melhores capacidades de pesquisa e interatividade, mas para tal vê-se a braços com um esforço adicional.

Numa sociedade em rede, composta por pessoas interessadas, devemos intervir no que nos está mais perto. Devemos agir enquanto sociedade civil e, quando chamados, tentar melhorar o espaço à nossa volta, em vez de sempre nos queixarmos de como perdemos tudo.

Na campanha de Crowdfunding agora iniciada, Pedro Almeida Vieira pede apenas um valor simbólico, 1000 euros  para tudo, e promete algumas melhorias. Se entre todos nós dermos 5,00€ em vez de os gastarmos hoje de tarde em algo menos útil, nem sequer iremos reparar na saída desse dinheiro e estaremos a contribuir para a manutenção do projeto. Basta que 200 pessoas o façam e este projeto subsiste.

Esta é uma daquelas alturas em que se pergunta se basta só um post, se basta só reclamar no facebook, se estamos a ser sinceros quando nos sentimos ofendidos ao perdemos mais um elemento cultural desta sociedade onde nos inseridos, se nem sequer 5,00€ somos capazes de dispor.

Para contribuir é fácil, carreguem nesta hiperligação e o resto torna-se evidente.

1/14/2013

Manuel «Livreiro Velho» Medeiros

Não é todos os dias que alguém faz 77 anos e ainda se mantém a trabalhar e a pensar em livros.

Manuel Medeiros, aka «Livreiro Velho», nasceu faz hoje 77 anos, quarenta anos antes de mim.

A coincidência é apenas fruto de um calendário que segue o Sol em vez da Lua, fruto de uma contagem que corre em torno de um planeta que roda.

Signos, astros e Fernando Pessoa à parte, coincidimos também no facto de querer que alguma coisa mude, o que com 77 anos é extraordinário.

Manuel Medeiros, além de fazer anos, dedicou um post a este blogue, onde refere duas coisas que me parecem importantes. A primeira é a da profundidade das ideias, logo, da utilidade das discussões não orientadas. A segunda é a da responsabilidade associada às palavras.

Tendo sempre sido um homem interessado, ainda hoje Manuel Medeiros organiza (com a sua esposa, Fátima, e o apoio incondicional do Luís Guerra) o Encontro Livreiro, na Culsete, em Setúbal, reforçando com acções aquilo que diz.

Quanto a responsabilidades, todos as temos, quem fala e quem não quer falar. Mas Manuel Medeiros toca num ponto importante (note-se que neste post Manuel Medeiros alarga a consideração a todos os blogues de livros). Falar é fácil, eu que o diga que falo tremendamente. Apesar disso, já tentei implementar várias ideias no sector mas, de todas elas, e para já, terei tido sucesso em parte demasiado pequena para o meu gosto. De ideias goradas a projetos «desviados» dos propósitos iniciais, passando pela inércia ou pelo excesso de acções que nos impedem de avançar com tudo, acho ainda que devemos fazer mais, que devo fazer mais.

Cada um de nós tem um dia de ano novo, o meu é hoje e, como tal, este é o meu desejo. Não a mala Chanel mas a capacidade de, tal como a Rosa Azevedo tem feito, continuar a ser motor de mudanças. Como Thomas Edison disse, nós nunca falhamos, apenas descobrimos que de 10.000 formas diferentes algo não funciona.

Nuno Seabra Lopes

1/09/2013

Da Feira

Cormac McCarthy já, por algumas vezes, nos mostrou como a humanidade também surge na devastação. Que, em mundos onde nada subsiste, ainda permanece o Homem com toda a sua capacidade, emoções, toda a sua arte de ser. Mas não é por isso acontecer que devemos achar que a arte e a cultura não são necessárias. Não é por seguirmos princípios como os atuais (onde o medo se reveste de pobreza, exclusão e desinserção numa sociedade regida pela capacidade financeira que tem de nela se participar) que devemos considerar que o dinheiro é o principal: o fim que justifica os meios. Os meios são sempre os mesmos, quando de dinheiro se trata: ganhar ou poupar. Variando apenas a fase em que tal necessidade surge.

Esta é uma fase de poupança, como todos sabemos. Por isso o Sérgio Almeida, do JN, alertou-nos no sábado para o facto de a Câmara do Porto ter decidido poupar cortando todo o apoio à Feira do Livro da cidade.

Para já nada sabemos se outros eventos de elevada importância cultural, já com história e que contribuem para o desenvolvimento da sociedade e da região, como as corridas do Circuito da Boavista que existem desde 2005 com o alto patrocínio da CMP, irão continuar, entrando no cemitério de grandes eventos relevantes do Porto, como as corridas de aviões no Douro.

Opções à parte, apenas se assiste a mais um episódio de gasparização da cultura, à sujeição de tudo aquilo que faz de nós pessoas à lógica do Excel. Talvez quando já não houver pessoas possamos viver a felicidade de ter contas limpas.

Entretanto, preparam-se as apostas para mais uma telenovela previsível: o candidato à CMP, Luís Filipe Menezes, deverá apanhar esta como uma sua bandeira, transferindo-a provavelmente para Gaia durante 2013 (prometendo o regresso em 2014 ao Porto), caso Rui Rio nada faça para o impedir. Novamente a cultura se torna somente um argumento político provisório para ganhos imediatos por pessoas que, infelizmente, parecem desconhecer profundamente o que é a cultura.
Haja circo e que ninguém incendeie Roma.

Nuno Seabra Lopes

1/07/2013

Hoje, há 20 anos, nasceu a História de Portugal de
José Mattoso


Editar uma História de Portugal elaborada com base em técnicas actualizadas de investigação científica, de carácter factual e sem as restrições censórias vigentes no anterior regime político, que tivesse todas as condições para se assumir como a nova referência neste domínio, ao estilo do que até à data vinha sendo a “História de Barcelos” – História de Portugal dirigida por Damião Peres e editada pela Portucalense Editora, de Barcelos, em 1928 – era uma velha aspiração do Círculo de Leitores.

A ideia pairava no clube do livro há uma boa dezena de anos. Era porém difícil reunir todas as condições indispensáveis para o desenvolvimento de um projecto tão ambicioso: i) – concitar o interesse de um historiador de insigne prestígio académico, reconhecida credibilidade e inquestionável autoridade para dirigir a obra; ii) – incentivar e obter a disponibilização de autores com indiscutível mérito e credibilidade científica para coordenar e desenvolver investigação sobre as diversas épocas e sobre elas elaborar sínteses inovadoras; iii) – produzir investigação iconográfica complementar do texto, mas que valesse ela própria como documento que fizesse ressaltar a imagem para além de uma mera ilustração; iv) – disponibilidade de meios financeiros adequados ao elevado investimento de um projecto de dimensão inédita no meio editorial português.


Em 1987, reunidas as condições internas indispensáveis, Manfred Grebe, então presidente do Círculo, e António Mega Ferreira, à data director editorial, deram o sinal de partida convidando o Prof. Mattoso para dirigir a obra. O primeiro dos inevitáveis contratempos e dificuldades que um projecto desta dimensão necessariamente comporta, surgiu logo no momento do convite ao Prof. José Mattoso. Isto porque, pouco tempo antes, se havia comprometido com o editor António Manso Pinheiro a dirigir uma História de Portugal que a Editorial Estampa também pretendia publicar, embora numa dimensão menos ambiciosa. Com a compreensão de António Manso Pinheiro, foi possível honrar a palavra do Prof. Mattoso, salvaguardar os interesses das duas editoras e produzir a obra que o país necessitava: uma História de Portugal com a maior envergadura de sempre. A apresentação pública do prjecto teve lugar na sala ogival do Castelo de S. Jorge, em 7 de Janeiro de 1993.

Ao longo de cinco anos, trabalharam no projecto mais de uma centena de historiadores e professores universitários sob a direcção do Prof. Mattoso e uma vasta equipa técnico-editorial do Círculo de Leitores, coordenada por Leonel Oliveira, responsável pelo Departamento de Grandes Obras. A avaliação inicial do projecto, em termos financeiros, dá uma visão complementar da sua dimensão. Na verdade, o investimento global na preparação, produção e direitos de autor, para uma tiragem que se previa de 35.000 exemplares, ultrapassava seis milhões de euros (à data, um milhão e duzentos mil contos). Os oito volumes da então designada «Nova História de Portugal», foram postos à disposição dos sócios do clube a partir do I trimestre de 1993, à razão de um volume por trimestre (excepto II/94), estando portanto prevista a publicação do VIII volume no I trimestre de 1995. Para os sócios que subscreveram a obra no trimestre de lançamento, o I volume teve um preço de 5.790 escudos (perto de 30 euros) e o Círculo garantiu o preço de 7.350$00 (cerca de trinta e sei euros, sendo que a inflação se situou entre 6,5% em 1992 e 6,5% em 1994) para cada um dos restantes volumes.


Depois, foi árdua a concretização do projecto. Foram as contrariedades, as surpresas que foram surgindo a cada esquina, implicando reforço de equipas, trabalho esforçado, e até a necessidade de, em última instância, ter sido imperioso substituir um dos historiadores com o qual fora já estabelecido contrato para desenvolver e coordenar a elaboração de um dos volumes. Valeu a pena. Hoje, mais de 100.000 famílias têm em suas casas esta importante e histórica História de Portugal!

Para mais informações sobre o evento ler também o post do «À Janela dos Livros».

Rui Beja

1/03/2013

O Refugo

De vez em quando editoras beneméritas pedem o apoio benemérito dos autores para projectos beneméritos. Ou então projectos em que o receptáculo do benemeritismo é a editora, quiçá pequena e jovem e a precisar de empurrão. E aí começa a armadilha: o escritor veterano quer ser generoso ou então está movido/a por um sentimento menos nobre: o receio de perder o barco, de ficar para trás, num mundo cão que vive cada vez mais de actualidade. [Actualidade que era, em grande parte, inimiga do livro, mais lento e duradoiro que outros media –  fica aqui a nota para outro debate.] E lá há a colectânea sobre o assunto Y ou em torno do tema Z. Como aqui não há vil permuta de vil metal [vil para a nossa cultura católico-aristocrático-esmoler, bem entendido –  fica também aqui a nota para outro debate], o autor veterano envia um resto de sopa passada,que é o que se faz com a caridade, ou então um original menor. (Se começar um original e ele sair bem, certamente dar-lhe-á outro destino, mais lucradouro.) E aqui começa o inferno: quando o livro sai fatalmente sairá a resenha ou a crítica no blog de um leitor dizendo que ficou muito desapontado com os consagrados e, afinal, o único conto digno desse nome, a única pérola no charco, era o original de um jovem desconhecido. Porque há sempre um desconhecido que entra no livro como a pedra na sopa da pedra, quando não é o próprio jovem editor (que afinal também é autor) a antologiar-se e, se for esperto (geralmente é, pode é nem sempre ter talento à altura da esperteza), esse desconhecido agarrará a oportunidade para roubar o palco aos veteranos... que afinal fizeram o papel de idiotas úteis. (E, no caso do editor auto-antologiador, de papel de embrulho.) Solução para o assunto: não tenho. Deixaria apenas a minha recomendação a todas as partes –  é este o meu contributo neste pequeno ensaio – para terem noção desta dança e, depois, agirem em conformidade consoante consciência e sentido prático lhes ditarem. E, já agora, mais um par de recomendações: 1) que o antologiador/organizador não se inclua na selecção (triste é o caso da selecção anual de poesia da FNAC), por muito que isso lhe doa; 2) que o autor não envie refugo para lado nenhum, porque a brincadeira pode sair-lhe cara;  3) que o jovem talento mostre algum respeito pelos mais velhos e baixe um bocadinho a qualidade do seu texto;  4) que o editor tenha em conta que tem de haver permuta séria, de dinheiro ou bens, quando se edita um texto. (Exemplo 1: há meses, em troca de uma ida a uma escola, que valia algum dinheiro, recebi uma leitura em voz alta de um livro que precisava de rever, o que também valia algum dinheiro). Alguma permuta tem de haver, senão é esbulho e, pior, desgarantia de qualidade. Dito isto, caro Nuno Seabra Lopes, continuo à espera de que me apresentes a tal amiga de que falastes.

Rui Zink.

1/02/2013

Ano Novo, novos temas


Começamos agora o ano de 2013.
Para a maioria de nós, um ano pouco auspicioso onde os livros aparentam não ser a primeira prioridade na pirâmide da sobrevivência (social).

Para o Edição Exclusiva, este será um ano cheio de ideias, de participações e vontade de fazer melhor.

Temos em vista novas participações e projetos especiais, onde contaremos com a colaboração de vários profissionais e amantes dos livros.

Apesar de a crise ser ainda a palavra de ordem (e termos por cá posts a falar dela), queremos em 2013 ter uma toada diferente, mais positiva, que contribua para mudar o espírito negativo que a realidade oferece.

Se não somos nós a mudar as coisas, quem mudará?

Para já, alguns especiais prometidos para este primeiro trimestre, para que, quem queira e tenha o que dizer, possa ir já escrevinhando algo para poder participar - recordamos que o blogue é aberto à vossa participação, após moderação:
- Livros de poesia;
- Feira do Livro de Lisboa;

Teremos também um espaço para apresentar projetos online de divulgação de livros e escritores, denominado: Nas páginas da Net.

E muito, muito mais.

Seja bem-vindo a 2013.